"Tirei a roupa, que vestira especialmente para a festa, e as pulseiras. Removi a maquiagem observando meu rosto no espelho do banheiro, como se aguardasse uma resposta. Por um momento, deixei de acreditar que existia, mas ver-me refletida me deu a certeza de que eu continuava viva. Contemplar a minha imagem me tranqüilizou, ainda que aquele corpo, dentro do qual eu me abrigava, parecesse estranho. Reparei então nas cicatrizes no meu braço esquerdo e nos meus pulsos. Aceitei-as, ao invés de repelí-las. Elas estabeleciam uma junção, uma união profunda comigo mesma.
De cada cem mil pessoas, setecentas e cinqüenta se ferem propositadamente de diferentes maneiras. Porém, elas nem sçao loucas nem suicidas, conquanto algumas acabem se matando.
Volta e meia alguém me pergunta que cicatrizes são essas na parte superior do meu braço e nos meus pulsos. Por isso, raramente saio sem pulseiras e não gosto de usar camisa sem manga. Como as pessoas são perversas, fazem perguntas constrangedoras fingindo uma ingênua curiosidade. E se rechaça a pergunta chamam você de sem educação. Se diz a verdade - tentei me suicidar, desejei me ferir -, elas suspiram com uma falsa expressão de dó e se desculpam, sentindo-se superiores. "
[Paula Parisot, em "Gonzos e Parafusos"]
De cada cem mil pessoas, setecentas e cinqüenta se ferem propositadamente de diferentes maneiras. Porém, elas nem sçao loucas nem suicidas, conquanto algumas acabem se matando.
Volta e meia alguém me pergunta que cicatrizes são essas na parte superior do meu braço e nos meus pulsos. Por isso, raramente saio sem pulseiras e não gosto de usar camisa sem manga. Como as pessoas são perversas, fazem perguntas constrangedoras fingindo uma ingênua curiosidade. E se rechaça a pergunta chamam você de sem educação. Se diz a verdade - tentei me suicidar, desejei me ferir -, elas suspiram com uma falsa expressão de dó e se desculpam, sentindo-se superiores. "
[Paula Parisot, em "Gonzos e Parafusos"]
Comentários
-Viver é criar cicatrizes... pois já se nasce com uma: o umbigo.