Caminhamos pela velha praça do centro da cidade. Sentamos em um banco em frente à antiga mercearia e pusemo-nos a lembrar dos tempos de outrora, quando éramos ainda bastante jovens, e o futuro (hoje presente) nos acenava distante, quase inalcançável.
Ela me disse:
- Se eu soubesse que seria mais feliz antes que hoje, não teria rezado tanto para crescer logo.
Eu entendia perfeitamente o que ela dizia. Também me sentia assim. Não que meu presente seja desafortunado, mas, na verdade, a vida parecia ser mais simples quando, diante da tristeza, subíamos na goiabeira, levando o violão, e cantávamos os sucessos do Legião Urbana, comendo goiabas não bichadas, balançando-nos nos galhos, rindo de qualquer coisa até chorar, ouvindo voinha gritando: "Olha o almoço!". Não havia prazos, trabalhos, maridos, filhos, namorados para nos ocupar a mente. Havia a inocência da infância, o almoço gostoso de vovó, o gosto da sirigüela, o cheiro do capim molhado e, mesmo o de estrume de vaca, trazia uma felicidade facilmente encontrada.
Crescemos. Adquirimos responsabilidades. Uns estão casados, têm filhos, namorados; outros, trabalham, dedicam-se aos estudos. A goiabeira ficou relegada, estéril. O violão está empoeirado, dentro do armário. A terra está seca, as vacas vendidas. Vovó se foi. Não nos sentamos mais em sua calçada, nas cadeiras de balanço. Nem fazemos mais silêncio, enquanto ela tira sua soneca depois do almoço. Não há mais vida naquela casa. Não há nada além de lembranças e saudade. No fim, é o que nos resta.
Lembrança de quando corríamos na praça da Igreja, paquerávamos na pracinha Pde. Cícero, comíamos depois da missa no Hamburgão. De quando íamos e vínhamos a pé, conversando besteiras, apressando o praço na curva mal assombrada, ninguém se cansava. De quando sentávamos nos degraus da maçonaria, contando histórias de terror até tarde, quando voinha gritava, mandando-nos ir dormir.
Tudo isso ficou registrado na esteira do tempo. Mas, quando pudermos nos reunir novamente, quando conseguirmos um espaço de sossego no nosso dia-a-dia movimentado, poderemos lembrar de tudo outra vez. Sempre aparecendo uma estória esquecida, que ninguém recordava até aquele dia.
Não, não vamos esquecer.

Comentários

Ramon de Alencar disse…
...
-''Lembrança de quando corríamos na praça da Igreja, paquerávamos na pracinha Pde. Cícero, comíamos depois da missa no Hamburgão. De quando íamos e vínhamos a pé, conversando besteiras, apressando o praço na curva mal assombrada, ninguém se cansava. De quando sentávamos nos degraus da maçonaria, contando histórias de terror até tarde...''

-Isso me deiou especialmente nostálgico, pois saibas, eu já fiz estas mesmas coisas e no mesmo lugar...só não sei se no mesmo tempo...

E ah, ao menos temos do que lembrar...

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