Por algum tempo achei que as coisas andavam meio...perdidas. E estavam realmente. Mas, agora, elas parecem encaixar perfeitamente, como num quebra-cabeça. Sabem...quando você tenta montar um quebra-cabeça gigante, de umas mil peças, e se depara com pedaços tão parecidos uns com os outros que acabam se confundindo. montar uma nuvem com pedacinhos tão pequenos em que todos parecem tão iguais... Você testa de um por um, até que se encaixam e, aos poucos, aquelas coisas branquinhas que, de longe, até parecem algodão, vão criando forma e você fica até feliz...
A verdade é que minha cabeça tava cheia dessas nuvens até agora. Não nuvens branquinhas, suaves e de veludo, mas daquelas bem negras, aglomeradas, que anunciam fortes tempestades. Elas não saiam de perto de mim. Eram como sombras que me perseguiam durante todo o dia. Eu não conseguia distinguir suas formas, mas sabia que estavam lá, à espreita, espiãs, perseguidoras, sei lá o quê.
Um dia acordei, e...puf! Céu limpo!
Como isso aconteceu? E o mais engraçado, não reparei no céu azul tão límpido logo assim de cara, não. Foi no fim do dia, ao deitar-me para dormir que percebi que algo estava diferente e estranho, não de um jeito ruim....só estranho do que havia sido por tanto tempo, desde que rompi meu casulo cor de roxo. E eu amei aquela sensação nova que se apoderava de mim! Aquela pessoa não era eu. Ou era, e eu nem lembrava mais, devido ao tempo afastada longe de mim mesma?
Eu consigo respirar, como se o ar mais límpido e puro penetrasse em meus pulmões. Como sair de dentro da água, e respirar novamente depois de alguns minutos prendendo a respiração. Você já tentou? Prender a respiração embaixo d'água pelo maior tempo que conseguir, não para vencer uma competição, mas para saber como é a agonia de sentir o ar se esgotando de seu organismo, aquela agonia que começa no peito e vai subindo devagar pela cabeça até quase pensar que se está pirando.
E se você não consegue se controlar? E se acaba prendendo a respiração tempo demais até perder a consciência? E se...as sombras voltarem? Elas já haviam estado aqui antes, e foram embora. E depois de um tempo retornaram. Agora, estão longe, mas tenho medo de vê-las na figura encapuzada de alguém no meio das árvores ou no ângulo escuro entre duas paredes de meu quarto. E se voltarem? O que estou perguntando? É óbvio que elas voltarão e não tardará até que me sinta mal novamente. Até que minha visão esteja turva e eu não consiga enxergar mais nada.
E eu posso ter um milhão de pessoas em quem confiar, mas nenhum delas vai afastar completamente essas figuras escuras de perto de mim. Por que eu sei o que as faz vir até mim. Sou eu mesma quem as chama. E minha voz soa como uma linda melodia aos ouvidos das sombras encapuzadas que vêm buscar um refúgio em meu coração.

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