Inquietos
Já li inúmeras críticas sobre o filme "Inquietos" (Restless, 2011) desde que o vi em 2011. Todas expressam muito bem e diversas maneiras a emoção passada no filme, que retrata o encontro de Annabel (Mia Wasikowska) com Enoch (Henry Hopper) de uma forma um tanto excêntrica. Os dois, apesar da pouca idade, já haviam entrado em contato com a morte: ele, quando perdeu os pais em um acidente de carro e ficou em coma por 3 meses; e ela, por ser uma paciente com câncer (pacientes cancerosos - piada para quem já viu o filme), fora da possibilidade de cura. Atualmente, após tantas reformas no âmbito da saúde, não se usa mais o termo "paciente terminal".
Um encontro entre duas criaturas com prazo para acabar... E o espírito de um jovem piloto kamikaze da 2ª Guerra (Que nem sabe o que aconteceu a Hiroshima), mostrando-lhes através da própria presença a continuidade da existência após a morte.
Um filme de Gus van Sant (virei fã) com trilha sonora perfeita de Danny Elfman. A combinação, hem? Danny costuma "trilhar" as produções de Tim Burton (meu diretor preferido), e nesse filme acertou em cheio. Fiquei triste por vasculhar inúmeros sites em busca da trilha sonora e não encontrá-la. Tive que utilizar um método secreto para não ter um ataque cardíaco e... voilà! Aqui está:

- Two of us - The Beatles
- Train track - Gus von Sant & Danny Elfman
- Wolverine - Sufjan Stevens
- Wisconsin - Bon Iver
- Sorry for your loss - Gus von Sant & Danny Elfman
- Happy Birthday - Sufjan Stevens
- Sympatique - Pink Martini
- Annabel's wake - Jordan Dystra & Danny Elfman
- Rake - Sufjan Stevens
- The fairest of the season - Nico
A lista não está completa, e algumas faixas foram impossíveis de achar, mas particularmente virei fã de Sufjan Stevens e Bon Iver. Acabei por baixar um álbum inteiro de ambos. Muito bom para ouvir pegando a estrada.
Eu pensei: todos já falaram muito bem sobre o filme, e o que eu, reles (i)mortal, poderia dizer a mais? Aí cheguei à conclusão de que há algo que a Psicologia poderia nos dizer.
Há uma cena em que Enoch e Annabel fazem uma encenação shakespeariana da morte da garota. Quando Enoch muda repentinamente o roteiro, ameaçando seguir a garota no caminho da eternidade (Romeu e Julieta?), ambos começam a discutir.
Há quem diga que Enoch agiu de forma idiota, mas vou tomar a defesa do garoto. Com a perda de ambos os pais, ele sofreu duas perdas ao mesmo tempo e, como ficou em coma devido ao acidente, nem teve a oportunidade de finalizar o ritual da morte com o enterro e se despedir dos pais. Talvez, por isso, ele costume ir a funerais de pessoas desconhecidas, e nesses momentos vive o luto que o coma o impediu de viver.
Meses depois ele se apaixona por uma garota que em breve o deixará também. Isso é realmente frustrante, e o modo com que ele agiu com ela, apesar de ter perdido um tempo precioso que poderiam estar passando juntos, foi um reflexo do medo que ele estava sentindo de perdê-la. Annabel queria transformar a própria morte em algo melancolicamente romântico, mas para Enoch a morte não era mais do que um monstro horrendo que estava prestes a devorá-lo mais uma vez.
Só achei que o espírito do amigo Hiroshi poderia ter sido mais explorado na trama, mostrando esse lado da continuidade da vida. Mas, como não conheço ainda outros trabalhos de van Sant, é possível que esse tipo de idéia não seja a que ele pretendia explorar.
De qualquer forma, aquele funeral com jujubas, chocolates e inúmeros outros doces foi o suficiente para dar um ar da graça ao fim do filme. Que a morte não necessariamente precisa ser um ritual melancólico e triste.
obs: oh, yes, eu quero um funeral daqueles!!!
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